A distribuição espacial equilibrada das áreas verdes cria paisagens urbanas mais saudáveis – The Applied Ecologist

CSR/ECO/ESG


Finalista do Southwood Prize 2022


Este post também está disponível em inglês aqui.

Douglas Cirino discute o artigo dele e de colegas de pesquisa que explora como as paisagens urbanas são mais saudáveis aquelas que compartilham o espaço da cidade com a vegetação.

São Paulo

Ao chegar pela primeira vez em São Paulo, a maior metrópole do mundo fora da Ásia, fiquei chocado com a quantidade de concreto utilizado para construir a cidade. Ainda criança, sentado no banco do passageiro do caminhão do meu pai, que estava ligeiramente elevado acima do nível dos carros, pude ver claramente um número infinito de prédios erguendo-se a partir de uma quantidade impressionante de asfalto em uma estrada central de oito faixas. Tudo parecia tão gigante que mal percebia as linhas de árvores ao lado do rio poluído e cheio de lixo, encontrando outro rio igualmente grande e sujo.

Esta é provavelmente a imagem que milhões de pessoas que chegaram a São Paulo nos últimos setenta ou oitenta anos têm em mente, e é provavelmente a imagem que milhões de outras pessoas que nunca estiveram na cidade têm em seu subconsciente.

Horizonte de São Paulo visto da região central, Avenida Paulista © @Drone.leo

Cerca de dez anos depois, morando em São Paulo e decolando do aeroporto no meio da cidade, tive a mesma impressão da vastidão, mas ao mesmo tempo, apreciei o equilíbrio entre o caos total e a auto-organização natural, como uma colônia de fungos, um formigueiro ou um ninho de cupins. Naquela época, notei como algumas áreas verdes permaneciam no meio da cidade e como muitas ruas e quintais estavam alinhados com pequenas quantidades de vegetação.

Compartilhamento e separação

Como estudante universitário do primeiro ano, eu não poderia imaginar que esse padrão de compartilhamento (sharing) e separação (sparing) do espaço para cidade e áreas verdes se tornaria minha área de pesquisa e assunto diário de trabalho.

Esse padrão vem da ecologia da paisagem, que foi inicialmente aplicada ao cultivo em áreas rurais e à conservação da biodiversidade, e posteriormente discutida nas estratégias para o crescimento de cidades modernas em todo o mundo. O land sharing é representado por áreas delimitadas de verde no meio ou nas bordas da cidade, como parques ou remanescentes naturais, separando o verde do cinza. Por outro lado, o land sparing é representado pela mistura do ambiente construído e pequenos pontos verdes entre edifícios casas e instalações urbanas.

Padrão típico de land sharing no Bairro Alto de Pinheiros, um bairro rico em São Paulo com muito verde entre as famílias © @Drone.leo

Ao ver São Paulo do alto pela primeira vez, eu sinceramente odiei a cidade grande com todo o seu cinza, barulho e poluição. Eu nasci e cresci no campo, brincando no sítio dos meus avós. Eu amo biologia e ecologia, e estudar em uma cidade como essa me deixou deprimido por alguns anos. Essa cena mudou completamente mais de dez anos depois. Hoje em dia, eu aprecio São Paulo e sua complexidade mais do que qualquer outra cidade no mundo, e os problemas de saúde que enfrentei me fizeram questionar a relação entre o verde na cidade e o bem-estar das pessoas.

A pesquisa

Na minha pesquisa, descobrimos que a distribuição de áreas verdes pela cidade é muito mais importante do que a quantidade total de áreas verdes. Adaptando e medindo a abordagem de land sharing e land sparing para a cidade, relacionamos a hospitalização dos residentes de São Paulo ao nível de segregação e mistura entre cinza e verde, controlando variáveis sociais.

Descobrimos que níveis mais altos de land sharing – tendo espaços verdes entre residências, arborização de ruas e pequenos trechos verdes – diminui, em média, 8% das taxas de doenças cardiovasculares para cada incremento de 10% no nível de sharing. Para doenças pulmonares, os bairros com equilíbrio entre sharing e sparing, com árvores isoladas e pequenas florestas urbanas, mostraram uma diminuição significativa nas taxas de hospitalização. Cada incremento de 10% desse tipo de cobertura verde diminuiu a taxa de hospitalização em 17%.

A principal teoria para explicar esses padrões é a oferta de serviços ecossistêmicos na cidade, fornecidos pelas áreas verdes, uma vez que sabemos que os serviços ecossistêmicos culturais e de regulação afetam o bem-estar humano. Nossa principal hipótese é que esse tipo de distribuição de áreas verdes e cinzas com mistura através do land sharing parece ser fundamental para entender a conexão entre pessoas e natureza, com contato diário com atributos naturais tendo um papel central no controle de doenças.

O padrão land sharing e land sparing pode ser observado em áreas urbanas em todo o mundo, em uma variedade de tamanhos de cidade e níveis de vegetação, bem como uma variação na ocorrência de doenças entre diferentes bairros, com diferentes características sociais e acesso a serviços ecossistêmicos. O entendimento dessa distribuição espacial poderia ser um ponto de partida para políticas e soluções baseadas na natureza para criar cidades mais sustentáveis e equitativas.

Sobre o promotor

Eu mesmo comecei a “compartilhar” a cidade com a vegetação quando me mudei para um bairro mais land sharing. Agora, cultivo com orgulho um jardim tropical no meu quintal e senti minha saúde e qualidade de vida melhorarem com o contato diário com a natureza.

Quintal de Douglas Cirino com plantas tropicais no bairro do Butantã, São Paulo, Brasil. Este tipo de jardim, para além da arborização de rua, ajuda a aumentar o nível de land sharing na cidade © Douglas Cirino

Essa situação até me inspirou a continuar minha pesquisa, agora no meu doutorado, investigando e mapeando a provisão de serviços ecossistêmicos na cidade em uma escala mais refinada, levando em conta as percepções e experiências das pessoas com a vegetação para entender sua relação com a melhoria da saúde. Uma das minhas principais questões no momento é se mudar para um bairro com mais serviços ecossistêmicos poderia aumentar a saúde humana.

O uso recreativo e apreciação cênica da vegetação urbana pode ser uma chave para repensar a vida nos grandes centros urbanos. Uma das minhas principais atividades recreativas envolve andar de bicicleta em um parque linear ao lado de um dos rios que descrevi no início do texto, que atualmente está passando por uma total despoluição e revitalização, demonstrando o reconhecimento das cidades em fornecer serviços verdes à população.

Douglas William Cirino é um Biólogo, Ecólogo da Paisagem interessado na interação entre o ser humano e a natureza. Ele investiga os padrões de ocupação e distribuição verde das cidades e os seus efeitos na saúde humana através da oferta de serviços ecossistêmicos © Lena Pozdnyakova

Leia o artigo completo, “A distribuição espacial equilibrada das áreas verdes cria paisagens urbanas mais saudáveis” no Journal of Applied Ecology.

Encontre os outros pesquisadores em início de carreira e seus artigos que foram pré-selecionados para o Prêmio Southwood 2022 aqui!





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